Wall Street recua após inflação nos EUA frustrar apostas em corte de juros e a indústria sente o baque
Alta inesperada nos preços ao consumidor pressiona os mercados, derruba expectativas de afrouxamento monetário e reacende temores no setor industrial global

Wall Street amanheceu em queda nesta quarta-feira, 16 de julho de 2025, após a divulgação de dados de inflação nos Estados Unidos que reverteram a expectativa do mercado por cortes na taxa de juros pelo Federal Reserve. O Índice de Preços ao Consumidor (CPI) subiu 0,3% em junho, marcando o maior avanço mensal desde janeiro, impulsionado em parte pelo efeito das tarifas de importação impostas recentemente pela administração Trump.
Com a leitura inflacionária mais alta que o esperado, os rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano dispararam. O título de 10 anos, referência global, atingiu o maior patamar em mais de um mês. A reação foi imediata nos mercados acionários: o índice S&P 500 recuou, acompanhando o movimento dos principais mercados asiáticos, como o CSI300 na China e o KOSPI na Coreia do Sul, ambos em queda. Já o dólar ganhou força frente ao iene, enquanto o ouro teve leve valorização e o petróleo cedeu diante do receio de menor demanda.
Para o setor industrial, o sinal de alerta está dado. A possibilidade de juros mais altos por mais tempo significa encarecimento do crédito, redução do investimento em capacidade produtiva e maior pressão sobre custos operacionais. Empresas intensivas em capital e com alta exposição a financiamentos, como as dos setores de base, metalurgia, automotivo e construção pesada, devem ser as mais sensíveis ao novo cenário. Além disso, a inflação puxada por tarifas impacta diretamente cadeias globais de suprimentos, elevando o preço de insumos importados e pressionando margens industriais, especialmente nos países emergentes.
Do ponto de vista macroeconômico, o mercado agora precifica uma probabilidade de apenas 56,5% de corte de juros pelo Fed em setembro, com redução das apostas para o total de cortes em 2025. Isso representa um ajuste relevante nas expectativas, que vinham sustentando a recuperação recente de setores industriais globais. Nos bastidores, discussões políticas sobre a permanência de Jerome Powell à frente do Fed também adicionam incerteza aos rumos da política monetária americana.
O setor industrial brasileiro pode ser duplamente afetado: por um lado, enfrenta o risco de fuga de capital e alta do dólar, que encarece importações e pressiona a inflação doméstica. Por outro, vê esfriar o apetite global por commodities e produtos manufaturados, o que pode desacelerar exportações. Para os gestores industriais, o momento exige atenção à volatilidade cambial, revisão de custos logísticos e planejamento financeiro com base em cenários menos favoráveis de juros e consumo global.
Enquanto isso, investidores seguem atentos aos próximos balanços trimestrais dos grandes bancos americanos e aos dados do Índice de Preços ao Produtor (PPI), que podem reforçar ou amenizar o novo tom adotado pelos mercados nesta semana.