SEXTO BOLETIM INDUSTRIAL
As principais notícias do setor industrial brasileiro da semana do 14 a 18 de abril de 2025

COM TARIFAÇO, BRASIL PODE SER GRANDE DESTINO DE PRODUTOS CHINESES
A guerra tarifária entre China e Estados Unidos deve impactar o comércio mundial, com o Brasil sendo um potencial destino para produtos chineses. Especialistas apontam que empresas chinesas de médio porte estão buscando alternativas para entrar no mercado brasileiro, especialmente com produtos de maior valor agregado e tecnologia. Vitor Moura, especialista em negócios Brasil-China, destaca que setores como energia renovável, veículos elétricos e inteligência artificial estão em destaque no interesse chinês. No entanto, a indústria nacional ainda não consegue competir em termos de tecnologia e produtividade, necessitando de investimentos. Especialistas recomendam que o Brasil exija transferência de tecnologia nos contratos com empresas estrangeiras.
Análise técnica
O redirecionamento de produtos chineses para o mercado brasileiro representa um fenômeno econômico complexo com múltiplas implicações. A China opera com vantagens competitivas estruturais que incluem: 1) economia de escala sem paralelos; 2) subsídios estatais diretos e indiretos; 3) integração vertical das cadeias produtivas; e 4) investimento maciço em automação e tecnologia de ponta. Estas vantagens resultam em custos de produção significativamente inferiores aos brasileiros. A entrada acelerada de produtos chineses de maior valor agregado no Brasil representa um desafio técnico para a indústria nacional, que opera com defasagem tecnológica média de 1,5 a 2 ciclos de inovação em relação à fronteira global. Dados da ABDI indicam que a produtividade industrial brasileira representa apenas 27% da americana e 38% da sul-coreana, evidenciando um gap competitivo estrutural.
Nosso comentário
A possível invasão de produtos chineses no Brasil é o resultado previsível da política comercial assertiva do presidente Trump, que finalmente está colocando os interesses americanos em primeiro lugar. Enquanto isso, o Brasil continua com uma postura ingênua e subserviente em relação à China, sem qualquer estratégia clara para proteger nossa indústria nacional. O governo atual parece acreditar que podemos competir com a China apenas com discursos sobre “desenvolvimento” e “parceria estratégica”, ignorando que o regime comunista chinês opera com regras completamente diferentes das nossas. A verdadeira solução não é mendigar “transferência de tecnologia” da China, mas criar um ambiente de negócios que permita à indústria brasileira competir em igualdade de condições: reduzir drasticamente o Custo Brasil, desburocratizar a economia, reformar o sistema tributário e investir em educação técnica de qualidade.
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BRASIL FICA EM ÚLTIMO LUGAR EM RANKING DE COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DA CNI
O Brasil ficou em último lugar no mais recente ranking de competitividade industrial elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que comparou o país com 17 nações com as quais compete no mercado internacional. Foram considerados oito fatores que afetam o desempenho das empresas. Os três aspectos que mais pesaram negativamente foram ambiente econômico, desenvolvimento humano e trabalho e educação. Em todos eles, o Brasil ocupou o último lugar. A melhor posição foi um 12º lugar em desempenho de baixo carbono e recursos naturais. As comparações foram feitas com Coreia do Sul, Países Baixos, Canadá, Reino Unido, China, Alemanha, Itália, Espanha, Rússia, EUA, Turquia, Chile, Índia, Argentina, Peru, Colômbia e México.
Análise técnica
O ranking de competitividade industrial da CNI utiliza metodologia robusta baseada em oito fatores críticos que determinam a capacidade competitiva das indústrias nacionais. A posição do Brasil como último colocado entre 18 países analisados reflete deficiências estruturais profundas e sistêmicas. No fator ambiente econômico, o Brasil apresenta uma das maiores taxas de juros reais do mundo, carga tributária complexa e regressiva, e infraestrutura deficiente. No desenvolvimento humano e trabalho, a legislação trabalhista rígida combinada com baixa produtividade da mão de obra (cerca de 1/4 da americana) cria um cenário onde o custo unitário do trabalho é desproporcionalmente alto. No fator educação, o Brasil investe 6% do PIB, percentual comparável a países desenvolvidos, mas com resultados muito inferiores em testes padronizados internacionais como o PISA, indicando ineficiência sistêmica na alocação de recursos.
Nosso comentário
Este resultado vergonhoso é a colheita amarga de décadas de políticas industriais equivocadas, baseadas em protecionismo, subsídios a setores escolhidos a dedo e intervencionismo estatal. Enquanto países como Coreia do Sul e China implementaram estratégias de desenvolvimento focadas em educação, inovação e integração às cadeias globais de valor, o Brasil apostou em um modelo fechado e corporativista que beneficia poucos à custa de muitos. O atual governo, com sua retórica de “reindustrialização”, parece determinado a repetir os mesmos erros do passado, acreditando que pode planejar centralmente quais setores devem prosperar. A verdadeira agenda para recuperar a competitividade industrial brasileira passa por reformas estruturais corajosas: simplificação radical do sistema tributário, desregulamentação do mercado de trabalho, abertura comercial gradual mas consistente, e reforma educacional focada em resultados e meritocracia.
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CINCO PONTOS PARA ENTENDER OS RISCOS E OPORTUNIDADES PARA O BRASIL COM A GUERRA COMERCIAL
A guerra comercial entre EUA e China apresenta tanto riscos quanto oportunidades para o Brasil. Um estudo destaca cinco setores-chave: 1) Aviação: possibilidade de ampliação das relações da Embraer com a China, que suspendeu compras da Boeing; 2) Aço e alumínio: risco de inundação do mercado brasileiro com produtos chineses a preços baixos; 3) Terras raras: oportunidade para o Brasil, que tem a terceira maior reserva mundial, desenvolver indústria de processamento; 4) Setor automotivo: preocupação com queda nas exportações e possível entrada de veículos mexicanos no Mercosul; 5) Agro: oportunidade de ocupar o espaço deixado pelos EUA no mercado chinês em produtos como carne bovina, soja e milho. O governo brasileiro está evitando confronto direto e tentando compensar possíveis prejuízos com abertura de novas frentes de negócio.
Análise técnica
A análise setorial apresenta um panorama tecnicamente consistente dos impactos diferenciados da guerra comercial sobre a economia brasileira. No setor de aviação, a oportunidade para a Embraer é tecnicamente viável considerando que a empresa brasileira não compete diretamente com a Boeing no segmento de aeronaves de grande porte. No setor de aço e alumínio, o risco de dumping é tecnicamente fundamentado. A China possui capacidade instalada excedente de aproximadamente 300 milhões de toneladas/ano de aço, equivalente a 150 vezes a produção brasileira. Quanto às terras raras, o Brasil possui de fato a terceira maior reserva mundial (aproximadamente 22 milhões de toneladas), mas carece de tecnologia de processamento para separação dos elementos individuais. No setor automotivo, a preocupação com o México é tecnicamente justificada. O país possui 13 acordos de livre comércio com 50 países e sua indústria automotiva opera com custos 15-20% inferiores aos brasileiros.
Nosso comentário
Este cenário de riscos e oportunidades criado pela guerra comercial entre EUA e China expõe a fragilidade da política externa brasileira atual, que insiste em uma postura de “neutralidade” que, na prática, significa subserviência aos interesses chineses. Enquanto o presidente Trump defende corajosamente os interesses americanos, nosso governo parece mais preocupado em não desagradar Pequim do que em proteger nossa indústria e nossos empregos. As oportunidades no agronegócio são inegáveis, mas devemos ter cuidado para não aprofundar ainda mais nossa dependência da China e nossa especialização em commodities. A verdadeira oportunidade estratégica seria usar este momento para negociar com os EUA uma parceria mais equilibrada, que incluísse transferência de tecnologia e investimentos em setores de alto valor agregado. O Brasil precisa abandonar a ingenuidade diplomática e adotar uma postura pragmática e assertiva, que coloque os interesses nacionais em primeiro lugar.
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RUI COSTA DESTACA AÇÕES DO GOVERNO FEDERAL PARA ESTÍMULO AO CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA
Durante cerimônia de lançamento do novo Nissan Kicks, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, destacou que a indústria foi o setor que puxou o crescimento do Brasil em 2024. Ele enfatizou a importância da educação como instrumento de transformação social e citou a ampliação de escolas de tempo integral e a criação de 100 novos institutos federais de educação tecnológica. Costa também mencionou que a Nissan anunciou 400 novos postos de emprego e ressaltou que o Brasil gerou 3,2 milhões de novos postos de trabalho nos últimos dois anos, com a maior massa salarial dos últimos 10 anos. “Esse momento é de alegria e de comemoração, de lançamento de um novo carro. E quero destacar que, em 2024, quem puxou o Brasil para crescer foi a indústria. A indústria cresceu, a indústria automotiva cresceu ainda mais e a Nissan, pelos dados demonstrados, teve um maior crescimento, e hoje anuncia 400 novos postos de emprego”, afirmou o ministro.
Análise técnica
As declarações sobre o crescimento industrial brasileiro em 2024 precisam ser contextualizadas tecnicamente. De fato, dados do IBGE indicam que a indústria de transformação cresceu 3,1% em 2024, acima do PIB geral de 2,5%. No entanto, este crescimento ocorre após uma base comparativa deprimida, com a indústria ainda operando 1,7% abaixo do nível pré-pandemia (2019) e 14,2% abaixo do pico histórico de 2011. A correlação direta entre políticas educacionais e desempenho industrial de curto prazo, sugerida no discurso, não encontra respaldo técnico. A expansão de escolas de tempo integral e institutos federais tem impacto defasado na produtividade industrial, tipicamente manifestando resultados em ciclos de 8-12 anos. Quanto à geração de empregos, os 3,2 milhões de novos postos mencionados representam principalmente recuperação pós-pandemia, com apenas 18% gerados na indústria de transformação.
Nosso comentário
O discurso do ministro Rui Costa é um exemplo perfeito da autopromoção que caracteriza este governo: muita propaganda, poucos resultados concretos. Comemorar o “crescimento” da indústria quando ainda estamos abaixo dos níveis pré-pandemia é como um aluno tirar 4 na prova depois de ter tirado 3 e achar que merece parabéns. A obsessão deste governo com escolas de tempo integral e institutos federais revela uma visão estatista e centralizadora da educação. Em vez de focar em resultados e qualidade do ensino, priorizam-se estruturas físicas e expansão da máquina pública. Enquanto isso, países que realmente avançam na educação, como Coreia do Sul e Singapura, apostam em meritocracia, valorização dos professores e parcerias com o setor privado. Quanto aos empregos, o ministro omite convenientemente que a maioria dos postos criados são de baixa qualificação e remuneração, muitos deles em setores dependentes de contratos governamentais.
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BOLSAS DA EUROPA CAEM COM PREOCUPAÇÕES SOBRE INDÚSTRIA DE SEMICONDUTORES
As bolsas europeias operaram em baixa na quarta-feira (16), em meio a sinais de que os gigantes da indústria de semicondutores ASML e Nvidia estão sendo afetados pelos efeitos da guerra comercial. O índice pan-europeu Stoxx 600 caiu 0,76%, com o subíndice de tecnologia amargando queda de 2,2%. A ASML, fabricante holandesa de equipamentos para produção de chips, divulgou números de encomendas trimestrais piores do que o esperado e alertou que as tarifas dos EUA estão ampliando incertezas sobre sua perspectiva. A americana Nvidia alertou que prevê um encargo de até US$ 5,5 bilhões relacionado a restrições que o governo dos EUA impôs à exportação de seus chips AI H20 para a China. Da agenda macroeconômica, foi confirmado que a taxa anual de inflação ao consumidor (CPI) da zona do euro desacelerou para 2,2% em março, ficando um pouco mais próxima da meta de 2% perseguida pelo Banco Central Europeu (BCE).
Análise técnica
A queda de 0,76% no índice pan-europeu Stoxx 600, com o subíndice de tecnologia recuando 2,2%, reflete preocupações tecnicamente fundamentadas sobre disrupções na cadeia global de semicondutores. A ASML ocupa posição única no ecossistema tecnológico global como monopolista de facto na produção de equipamentos de litografia por ultravioleta extremo (EUV), essenciais para a fabricação dos chips mais avançados. Suas máquinas, que custam mais de US$ 150 milhões cada, representam gargalos críticos na cadeia produtiva global. O alerta da Nvidia sobre um encargo potencial de US$ 5,5 bilhões é tecnicamente significativo por representar aproximadamente 7% da receita anual projetada da empresa para 2025. Para a indústria brasileira, que importa praticamente 100% dos semicondutores que utiliza, estas tensões representam riscos técnicos em três dimensões: 1) aumento de preços; 2) potenciais gargalos de fornecimento para setores como automotivo e eletroeletrônico; e 3) atraso no acesso a tecnologias de ponta.
Nosso comentário
A guerra tecnológica entre EUA e China, que se manifesta claramente no setor de semicondutores, expõe a fragilidade da posição brasileira no cenário global. Enquanto potências mundiais disputam o controle de tecnologias estratégicas, o Brasil segue como mero espectador e consumidor passivo, sem qualquer estratégia coerente para garantir sua soberania tecnológica. O presidente Trump está absolutamente correto em impor restrições à transferência de tecnologias críticas para a China, um regime que não hesita em usar seu poderio econômico e tecnológico para fins geopolíticos. Esta não é apenas uma questão comercial, mas de segurança nacional - algo que nosso governo parece incapaz de compreender. Enquanto países como Índia, Vietnã e até mesmo México estão atraindo investimentos bilionários em fábricas de chips, o Brasil segue sem uma política industrial séria para o setor. A verdadeira solução passaria por criar um ambiente favorável à inovação e ao investimento privado, com segurança jurídica, carga tributária competitiva e integração às cadeias globais de valor.