SÉTIMO BOLETIM INDUSTRIAL
As principais notícias do setor industrial brasileiro da semana do 21 a 25 de abril de 2025

BRASIL EM ÚLTIMO LUGAR NO RANKING DE COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL
O Brasil ficou em último lugar no mais recente ranking de competitividade industrial elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). No estudo, a entidade comparou o Brasil com outros 17 países que competem com o País no mercado internacional, considerando oito fatores que afetam o desempenho das empresas. Os três aspectos que mais pesaram negativamente no resultado foram Ambiente Econômico; Desenvolvimento Humano e Trabalho; e Educação. Em todos eles, o Brasil ocupou o último lugar no ranking. No primeiro, o custo alto de financiamento no País figura como um dos empecilhos históricos para a indústria, com a Selic em 14,25% ao ano.
O ambiente tributário foi outro aspecto que ajudou a jogar o Brasil para a última posição no ranking de Ambiente Econômico. A CNI entende que o País viverá um avanço significativo com a reforma tributária, mas alerta que é preciso cuidado com as regulamentações para que exceções tributárias não façam a alíquota média do novo imposto sobre o consumo ser muito alta.
O aspecto em que o País se sai melhor é no desempenho de Baixo Carbono e Recursos Naturais, ocupando a 12ª posição. O destaque positivo ficou no subfator de descarbonização, com o 2º lugar no ranking, demonstrando o potencial da matriz energética limpa brasileira como vantagem competitiva.
Análise Técnica
O resultado do ranking de competitividade industrial da CNI expõe problemas estruturais profundos que afetam a indústria brasileira. A combinação de juros elevados (Selic a 14,25%), carga tributária complexa e onerosa, e baixa qualificação da mão de obra cria um ambiente hostil para o desenvolvimento industrial.
O custo de capital no Brasil é um dos mais altos do mundo, inviabilizando investimentos de longo prazo necessários para modernização do parque industrial. Enquanto países como Coreia do Sul e Alemanha mantêm taxas de juros reais próximas a zero ou negativas, o Brasil opera com taxas que tornam o retorno sobre investimento industrial praticamente inviável em muitos setores.
A reforma tributária em andamento pode trazer algum alívio, mas sem uma redução significativa dos juros e melhoria na educação técnica, dificilmente haverá mudança significativa neste cenário. A posição de destaque em descarbonização (2º lugar) é um ativo importante, mas insuficiente para compensar as demais deficiências estruturais.
Nosso Comentário
Enquanto o governo federal comemora sua "Nova Indústria Brasil" de R$ 507 bilhões, o ranking da CNI expõe a dura realidade: estamos em último lugar entre 18 países! Não é surpresa quando temos uma política monetária que sufoca o setor produtivo com juros estratosféricos, uma máquina estatal inchada que consome recursos que deveriam ir para infraestrutura, e um sistema educacional que forma militantes em vez de profissionais qualificados.
Os países que lideram o ranking apostam em liberdade econômica, desregulamentação e educação técnica de qualidade, enquanto aqui seguimos na contramão, com mais intervenção estatal, mais burocracia e mais gastos públicos improdutivos. A indústria brasileira sobrevive apesar do governo, não graças a ele.
-----------------------------------------------------------------------------------------
GUERRA COMERCIAL ENTRE EUA E CHINA: IMPACTOS PARA O BRASIL
A guerra comercial entre Estados Unidos e China, intensificada com a imposição de tarifas, gera incertezas na economia global e afeta o Brasil de forma desigual. Enquanto o Centro-Oeste pode ter um aumento estimado de R$ 6,94 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB), o Sudeste deve sofrer perdas de R$ 7,16 bilhão, segundo análise do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica Aplicada (Nemea) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O estudo indica que o Centro-Oeste se beneficiará da valorização das exportações agrícolas, como soja e derivados do petróleo. Estados como Bahia, Maranhão e Piauí também devem ter ganhos, enquanto Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro enfrentarão dificuldades devido à sua base industrial mais desenvolvida.
O setor industrial brasileiro teme uma super oferta no mercado interno devido à realocação de fluxos comerciais globais. A indústria siderúrgica, por exemplo, busca evitar esse cenário com cotas de importação de aço. Especialistas alertam para a necessidade de reduzir custos internos e melhorar o ambiente de negócios para aumentar a competitividade.
A guerra comercial pode abrir espaço para o Brasil expandir suas exportações para a China, especialmente no agronegócio. A ampliação de acordos comerciais com outros países e blocos, como a União Europeia, também é vista como uma oportunidade para diversificar os mercados e reduzir a dependência dos Estados Unidos.
Análise Técnica
A guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo cria um cenário de realocação de fluxos comerciais que impacta o Brasil de forma assimétrica. A análise do Nemea/UFMG demonstra que os efeitos regionais são heterogêneos, beneficiando estados com forte base exportadora de commodities agrícolas e prejudicando regiões industrializadas.
O risco mais significativo para a indústria brasileira é o "efeito desvio de comércio", onde produtos chineses que não conseguem entrar nos EUA devido às tarifas de até 145% são redirecionados para mercados alternativos, incluindo o Brasil. Isso pode gerar uma pressão competitiva insustentável para setores como têxtil, eletrônicos e siderurgia.
Por outro lado, a disputa abre oportunidades para o Brasil se posicionar como fornecedor confiável para ambos os mercados. A China, em particular, pode aumentar suas importações de produtos agrícolas e minerais brasileiros para substituir fornecedores americanos. Setores como proteína animal, soja, minério de ferro e celulose podem se beneficiar significativamente.
A diversificação de mercados e a busca por acordos comerciais com outros blocos econômicos, como a União Europeia e o Mercosul, tornam-se ainda mais estratégicas neste cenário de incertezas no comércio global.
Nosso Comentário
A guerra comercial entre Trump e China expõe nossa vulnerabilidade industrial e a falta de uma política comercial assertiva. Enquanto o agronegócio, eficiente e competitivo globalmente, deve se beneficiar com aumento de exportações para a China, nossa indústria corre o risco de ser inundada por produtos chineses baratos.
O governo atual, em vez de proteger o mercado interno com medidas antidumping eficazes e reduzir o "Custo Brasil", prefere discursos vazios sobre "neoindustrialização" e subsídios que só beneficiam empresas amigas do poder. Precisamos de uma defesa comercial robusta, desburocratização radical e redução de impostos para que nossa indústria possa competir em igualdade de condições. A oportunidade está aí, mas o Brasil só aproveitará se abandonar o intervencionismo estatal falido.
----------------------------------------------------------------------------------------
INOVAÇÃO NA INDÚSTRIA RECUOU EM 2023 NO BRASIL, DIZ IBGE
A parcela de indústrias brasileiras que inovaram em produtos ou processos ficou em 64,6% do total das empresas, em 2023. Segundo dados da Pesquisa de Inovação (Pintec) 2023, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual é inferior aos registrados em 2022 (68,1%) e em 2021 (70,5%). A Pintec é coordenada pelo IBGE em parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A taxa de inovação aumenta com o porte da empresa. Em 2023, por exemplo, 73,6% das empresas com 500 funcionários ou mais apresentaram inovação. O percentual caiu para 70,8% quando analisadas apenas as empresas com 250 a 499 funcionários, e para 59,3% no caso das empresas que têm de 100 a 249 empregados.
Em relação aos produtos inovadores, 68% eram novos apenas para a empresa (ou seja, já eram usados em outras empresas do mercado), 27,6% eram novidades para o mercado nacional (usado em outros países, mas não no Brasil) e apenas 4,4% eram inovações para o mercado mundial.
Entre as empresas inovadoras, 47,6% encontraram problemas ou obstáculos para inovar em 2023. As principais dificuldades enfrentadas foram instabilidade econômica (44,2%), capacidade limitada de recursos internos (42,1%) e acirramento da concorrência (41,4%).
Análise Técnica
A queda consecutiva na taxa de inovação industrial brasileira (de 70,5% em 2021 para 64,6% em 2023) é um sinal preocupante para a competitividade de longo prazo do setor. Este recuo ocorre justamente quando a inovação se torna ainda mais crucial para enfrentar a concorrência global e a transição tecnológica em curso.
A concentração da inovação em empresas de grande porte (73,6% nas empresas com mais de 500 funcionários) revela um problema estrutural: pequenas e médias empresas, que compõem a maior parte do tecido industrial brasileiro, enfrentam barreiras significativas para inovar. Isso cria um "abismo tecnológico" dentro do próprio setor industrial nacional.
Outro dado preocupante é que apenas 4,4% das inovações são para o mercado mundial, indicando que a indústria brasileira está majoritariamente em posição de seguidora tecnológica, não de líder. Isso limita o potencial de agregação de valor e diferenciação competitiva.
As principais barreiras à inovação citadas (instabilidade econômica, limitação de recursos internos e acirramento da concorrência) refletem tanto problemas macroeconômicos quanto deficiências no ecossistema de inovação brasileiro, incluindo acesso limitado a capital de risco, baixa integração universidade-empresa e insuficiência de mão de obra qualificada em áreas tecnológicas.
Nosso Comentário
Mais um resultado desastroso da política econômica intervencionista: a inovação industrial está em queda livre! Enquanto países como Israel, Coreia do Sul e EUA criam ambientes favoráveis à inovação com segurança jurídica e liberdade econômica, o Brasil segue na contramão.
Nosso empreendedor enfrenta uma burocracia kafkiana, impostos escorchantes e um sistema educacional que não forma profissionais para o mercado. A Lei do Bem, uma das poucas políticas eficazes de incentivo à inovação, é constantemente ameaçada por um governo que prefere distribuir subsídios a empresas "campeãs nacionais" escolhidas a dedo. Não é coincidência que a inovação cai justamente quando o intervencionismo estatal aumenta. Para reverter esse quadro, precisamos de menos Estado e mais liberdade para inovar.
-----------------------------------------------------------------------------------------
A NOVA INDÚSTRIA BRASIL E O AVANÇO DA NEOINDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
A Nova Indústria Brasil (NIB), atual política industrial brasileira, avança em nova fase. Anúncios recentes vêm sendo feitos pelo governo federal para cada uma das seis missões que orientam a NIB, com a definição de metas mais concretas a serem alcançadas até 2026 e 2033, e com a priorização de cadeias produtivas a serem desenvolvidas para atingir os objetivos das missões.
Ponta de lança da NIB, o Plano Mais Produção (P+P) teve recursos ampliados dos R$300 bilhões iniciais para R$ 405,7 bilhões, com o aporte feito por novas instituições – Banco do Nordeste (BNB), Banco da Amazônia (BASA) e Caixa Econômica Federal, além do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).
A NIB prioriza missões que representam desafios socioeconômicos e ambientais do país, estabelecendo um conjunto de ações para alcance de suas metas. Busca induzir menor pegada de carbono nos produtos provenientes da indústria e incentivar a competitividade da indústria nacional, promovendo a inovação, aumento da produtividade e inserção internacional.
Entre os instrumentos e programas para o avanço da neoindustrialização brasileira destacam-se o Programa Mobilidade Verde e Inovação (MOVER), a Letra de Crédito de Desenvolvimento (LCD), o Brasil Mais Produtivo (B+P), a depreciação acelerada, ações do BNDES de apoio à exportação e margens de preferência em compras públicas.
Análise Técnica
A Nova Indústria Brasil (NIB) representa uma tentativa de política industrial abrangente, com foco em missões específicas e instrumentos diversificados. A ampliação dos recursos do Plano Mais Produção para R$ 405,7 bilhões indica um compromisso significativo com o financiamento da transformação industrial.
Do ponto de vista técnico, a estruturação da NIB em torno de missões é uma abordagem moderna, alinhada com práticas internacionais bem-sucedidas. A priorização de cadeias produtivas específicas permite concentrar recursos em setores com maior potencial de desenvolvimento, evitando a dispersão que caracterizou políticas industriais anteriores.
Os instrumentos previstos combinam financiamento (via BNDES, BNB, BASA, Caixa, Finep e Embrapii), incentivos fiscais (depreciação acelerada, Letra de Crédito de Desenvolvimento) e uso do poder de compra do Estado (margens de preferência). Esta abordagem multifacetada é tecnicamente adequada para enfrentar os diversos gargalos da indústria brasileira.
Contudo, o sucesso da NIB dependerá da implementação efetiva desses instrumentos e da coordenação entre os diversos órgãos envolvidos. A experiência histórica brasileira mostra que políticas industriais bem desenhadas frequentemente enfrentam dificuldades na execução, seja por restrições orçamentárias, descontinuidades políticas ou captura por interesses específicos.
Comentário
O governo anuncia com pompa e circunstância mais R$ 405,7 bilhões para sua "Nova Indústria Brasil", mas esquece de mencionar que estamos repetindo os mesmos erros do passado. Esta política industrial intervencionista é um déjà vu dos fracassos da era petista: escolha de "campeões nacionais", direcionamento político de crédito subsidiado e uso do poder de compra do Estado para beneficiar empresas amigas do poder.
Enquanto isso, o verdadeiro motor da industrialização – a redução do Custo Brasil, a desburocratização e a abertura comercial – segue ignorado. Países que se industrializaram com sucesso nas últimas décadas, como Coreia do Sul e Taiwan, investiram em educação de qualidade e ambiente de negócios favorável, não em subsídios estatais. O resultado? Já sabemos: mais dívida pública, mais inflação e mais uma geração de empresas dependentes do Estado.
------------------------------------------------------------------------------------------
INDÚSTRIA VÊ OPORTUNIDADE PARA BRASIL COM ENERGIA LIMPA NA NOVA ERA TRUMP
As políticas anunciadas até o momento no novo mandato de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, ainda que representem ameaças ao ritmo da transição energética, apontam para oportunidades para a indústria brasileira. É a aposta da Abrace, associação que representa grandes consumidores de energia elétrica, que vê potencial para o Brasil explorar a enorme oferta de energia renovável e barata gerada no país como diferencial competitivo para uma nova onda de industrialização.
"O caminho do Brasil é olhar a transição energética com foco no consumo, e não na oferta, como tem sido", disse Paulo Pedrosa, presidente da Abrace, que tem entre seus associados eletrointensivos como Alcoa, Braskem, Ambev, Gerdau, Vale e Suzano.
Ainda que entre as medidas de Trump esteja a taxação em 25% das importações de aço e alumínio importados, afetando a produção brasileira, e o discurso do seu governo seja, na maior parte do tempo, contrário às renováveis, a oferta de recursos naturais no Brasil é tão grande que não deixa de ser uma vantagem competitiva do ponto de vista global.
Uma mudança positiva é o provável fim das políticas de subsídios às renováveis na Europa e nos Estados Unidos. "A gente vem competindo com muitos países que estavam subsidiando a energia renovável, inclusive os Estados Unidos, através do IRA [Inflaction Reduction Act]. Agora que o mundo vai repensar o 'green premium', que significa pagar mais pelo verde, é a hora de aproveitarmos o 'green bonus'. Somos renováveis e somos competitivos", explicou Pedrosa.
Análise Técnica
A posição do Brasil como detentor de uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo pode se tornar um diferencial competitivo ainda mais relevante no contexto da nova administração Trump. Do ponto de vista técnico, a abundância de recursos renováveis (hídricos, eólicos, solares e biomassa) permite ao Brasil produzir energia a custos competitivos e com baixa emissão de carbono.
A mudança no cenário global, com provável redução de subsídios às energias renováveis nos EUA e Europa, pode nivelar o campo de competição, favorecendo países que possuem vantagens naturais neste setor, como o Brasil. O conceito de "green bonus" mencionado pelo presidente da Abrace representa uma inversão estratégica: de um cenário onde o "verde" era um custo adicional para um onde se torna uma vantagem econômica.
Para setores eletrointensivos como alumínio, siderurgia, química e celulose, o acesso a energia renovável e competitiva pode compensar parcialmente outras desvantagens estruturais da indústria brasileira, como infraestrutura deficiente e carga tributária elevada. A eletrificação de processos industriais, substituindo combustíveis fósseis por eletricidade renovável, representa uma oportunidade técnica significativa para redução de custos e emissões.
Contudo, para materializar este potencial, são necessários ajustes regulatórios que permitam que a vantagem da matriz energética limpa se traduza efetivamente em custos competitivos para a indústria. A proposta de estender incentivos fiscais (como Reidi e debêntures incentivadas) para investimentos industriais em transição energética é tecnicamente consistente com este objetivo.
Comentário
Finalmente uma boa notícia! Com Trump reduzindo os subsídios bilionários para energias renováveis nos EUA, o Brasil pode transformar sua matriz energética naturalmente limpa em vantagem competitiva real. Nossa indústria tem potencial para oferecer produtos com baixa pegada de carbono sem os custos artificiais impostos pela agenda verde radical.
Mas para aproveitar esta oportunidade, precisamos urgentemente reduzir os encargos que encarecem nossa energia e acabar com a insegurança jurídica que afasta investimentos. Enquanto o governo atual insiste em microgerenciar a transição energética com subsídios e regulações excessivas, o setor privado poderia fazer muito mais se tivesse liberdade para inovar. O "green bonus" brasileiro só se tornará realidade quando abandonarmos o dirigismo estatal e apostarmos na liberdade econômica como motor da verdadeira sustentabilidade.