Pressão cresce nos EUA contra tarifa de 50% sobre produtos brasileiros
Empresas e políticos dos EUA tentam frear medida que pode paralisar negócios bilionários com o Brasil

O governo dos Estados Unidos avalia a aplicação de uma tarifa de importação de 50% sobre produtos brasileiros, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto. A medida, anunciada pelo presidente Donald Trump em julho, gerou mobilização de entidades empresariais e parlamentares americanos, que defendem negociações para evitar efeitos sobre consumidores e empresas de ambos os países.
A U.S. Chamber of Commerce e a Amcham Brasil solicitaram formalmente que Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abram diálogo de alto nível. Segundo as entidades, mais de 6,5 mil pequenas empresas nos EUA dependem de insumos brasileiros, enquanto 3,9 mil companhias americanas mantêm investimentos no Brasil. O comércio bilateral movimenta cerca de US$ 60 bilhões anuais.
Setores como o de café e suco de laranja estão entre os mais sensíveis. Importadoras americanas acionaram a Justiça, apontando risco de aumento de até 25% nos preços e impacto em empregos. No Maine, cafeterias independentes já anunciaram reajustes preventivos. Os Estados Unidos importam 16,4% do café exportado pelo Brasil, segundo o Cecafé, e 41,7% do suco de laranja brasileiro.
Na aviação, a SkyWest, que encomendou 74 aeronaves da Embraer, afirmou que pode adiar entregas caso a tarifa seja confirmada. A Embraer calcula que o custo adicional por aeronave seria de cerca de US$ 9 milhões para seus clientes americanos. Atualmente, os EUA respondem por 70% das exportações de jatos executivos da empresa.
No Congresso americano, um grupo de 11 senadores democratas enviou carta a Trump destacando que o comércio com o Brasil sustenta aproximadamente 130 mil empregos nos EUA. Deputados ligados ao setor cafeeiro também solicitaram isenção para o produto, argumentando que a produção doméstica não supre a demanda.
O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, mencionou que itens não produzidos em escala no país, como café e cacau, poderiam ser avaliados para isenção, sem citar diretamente o Brasil. Para o National Foreign Trade Council, uma tarifa de 50% teria potencial de inviabilizar importações em diversos segmentos, a depender do tempo de vigência.
Nesta segunda-feira, senadores brasileiros e representantes do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos se reuniram em Washington para discutir o tema. O vice-presidente Geraldo Alckmin declarou que o governo brasileiro segue aberto ao diálogo e que uma eventual conversa entre Trump e Lula está sendo avaliada.