Nvidia e AMD aceitarão repassar 15% da receita de vendas de chips à China ao governo dos EUA
Acordo inédito, vinculado à concessão de licenças de exportação para semicondutores como o H20 e o MI308, reacende debate sobre segurança nacional e intervenção governamental no setor de tecnologia.

Em uma medida considerada sem precedentes no setor de semicondutores, Nvidia e AMD concordaram em transferir 15% da receita obtida com a venda de chips avançados para clientes na China ao governo dos Estados Unidos. A informação foi confirmada por uma autoridade americana no domingo (11), em condição de anonimato, e ocorre como parte das negociações para retomada de exportações suspensas desde abril.
A decisão surge após a administração do presidente Donald Trump interromper as vendas do chip de inteligência artificial H20 para o mercado chinês, citando restrições de exportação. No mês passado, a Nvidia anunciou que Washington havia sinalizado a liberação gradual das licenças, permitindo a retomada das entregas. Outra autoridade informou que o Departamento de Comércio já começou a emitir autorizações para o envio do H20 e que o acordo inclui também o chip MI308, da AMD. O repasse de 15% foi estabelecido como requisito para concessão das licenças de exportação, mas o governo dos EUA ainda não detalhou como os valores arrecadados serão utilizados.
Especialistas alertam que a nova taxa pode reduzir as margens brutas desses produtos em até 15 pontos percentuais, impactando o resultado global das empresas em pelo menos um ponto percentual. As ações da Nvidia e da AMD caíram cerca de 1% e 2%, respectivamente, no pré-mercado desta segunda-feira.
O mercado chinês é altamente estratégico para as fabricantes: no ano fiscal encerrado em janeiro de 2025, a Nvidia registrou US$ 17 bilhões em receita no país, cerca de 13% de seu faturamento total. Já a AMD faturou US$ 6,2 bilhões em 2024, equivalente a 24% das vendas globais.
A medida, no entanto, gerou controvérsias. Para Geoff Gertz, pesquisador sênior do Center for New American Security, há incoerência na abordagem: “Ou vender chips H20 para a China é um risco à segurança nacional, e nesse caso não deveríamos estar fazendo isso desde o início, ou não é um risco, e nesse caso, por que aplicar essa penalidade extra?”.
Críticas também vieram de ex-integrantes do Departamento de Comércio. Alasdair Phillips-Robins, que atuou na gestão do ex-presidente Joe Biden, afirmou que a iniciativa “sugere que o governo está trocando proteções de segurança nacional por receita para o Tesouro”.
O secretário de Comércio, Howard Lutnick, disse no mês passado que permitir a venda de modelos intermediários fazia parte de uma estratégia mais ampla de negociação com a China, que inclui insumos estratégicos como terras raras. Lutnick classificou o H20 como “o quarto melhor chip” da Nvidia e defendeu que manter empresas chinesas dependentes da tecnologia americana, ainda que não a mais avançada, atende aos interesses dos EUA.
Apesar das críticas, fontes do governo indicam que a administração Trump não considera que as vendas de H20 e modelos equivalentes comprometam a segurança nacional. Ainda não há definição sobre quando o repasse começará a ser aplicado ou os mecanismos para sua cobrança, mas autoridades afirmam que a medida respeitará a legislação vigente.
Para analistas, o acordo abre um precedente no comércio global de tecnologia e sinaliza uma nova etapa na disputa geopolítica entre Washington e Pequim, na qual a política industrial e de segurança se entrelaça com objetivos fiscais.