A Kraft Heinz, multinacional americana de alimentos dona de marcas icônicas como Heinz, Philadelphia, Lunchables e Quero, anunciou um investimento de US$ 3 bilhões para modernizar suas fábricas nos Estados Unidos. O aporte, considerado o maior da companhia em produção em uma década, ocorre em um momento desafiador para o mercado americano, com a confiança do consumidor no menor nível em 70 anos e em meio à nova onda de tarifas impostas pelo presidente Donald Trump.

De acordo com Pedro Navio, presidente da Kraft Heinz para a América do Norte, as atualizações nas 30 fábricas da empresa no país têm como objetivo principal reduzir custos e tornar as unidades mais eficientes, o que ajudará a compensar o impacto das tarifas comerciais recentemente implementadas. "Isso vai além da mera eficiência ou de lidar com os atuais desafios tarifários", afirmou o executivo em entrevista à Reuters, destacando que a modernização também permitirá que a empresa desenvolva e lance novos produtos com maior agilidade.

Um ponto destacado por Navio é que praticamente todo o portfólio que a Kraft Heinz comercializa nos Estados Unidos é produzido nas fábricas da companhia no país. A empresa cultiva seus próprios tomates na Califórnia e batatas em Idaho, por exemplo, exportando parte da produção para o Canadá. Esta característica de produção local pode representar uma vantagem competitiva no atual cenário de tarifas sobre importações.

O investimento deve gerar cerca de 3.500 novos empregos na construção civil nas localidades onde as fábricas estão instaladas, embora a empresa não preveja a necessidade de contratações adicionais além disso. A Kraft Heinz se junta a outras grandes empresas como Kimberly-Clark (fabricante de lenços faciais) e Anheuser-Busch InBev (cervejaria) que fizeram anúncios semelhantes nas últimas semanas, indicando uma possível tendência de reinvestimento na produção local americana.

O anúncio do investimento ocorre em um momento de resultados financeiros desafiadores para a Kraft Heinz. No primeiro trimestre de 2025, a empresa reportou um lucro de US$ 712 milhões, queda de 11,1% em comparação ao mesmo período do ano anterior. A receita também recuou 6,42%, totalizando US$ 5,9 bilhões. Na América do Norte, principal mercado da companhia, a receita teve retração de 7%, chegando a US$ 4,44 bilhões.

Há duas semanas, durante a apresentação do balanço trimestral, o CEO Carlos Abrams-Rivera já havia destacado os resultados em linha com as expectativas do grupo, apesar das crescentes pressões do mercado. "Estamos monitorando de perto os potenciais impactos de pressões macroeconômicas, como as tarifas e a inflação, e estamos dedicados a aumentar os investimentos para impulsionar nossos produtos e marcas, a fim de entregar mais valor aos nossos consumidores", afirmou na ocasião.

Ao mesmo tempo, a empresa reduziu suas projeções para 2025, estimando uma queda de 1,5% a 3,5% em suas receitas orgânicas, em função da volatilidade do ambiente operacional. As ações da Kraft Heinz registravam ligeira alta de 0,06% no pre-market de quarta-feira, após fecharem o pregão anterior em queda de 1,99%. No acumulado do ano, os papéis apresentam desvalorização de 10,1%, com o grupo avaliado em US$ 32,65 bilhões.

O investimento da Kraft Heinz reflete uma resposta estratégica às novas tarifas implementadas pelo governo Trump, que incluem uma taxa de 10% sobre todos os produtos importados. Embora a empresa tenha afirmado que suas importações da China, que enfrentam tarifas ainda mais altas, sejam negligenciáveis, outros insumos como café estão sujeitos às novas taxas.

Como medida preventiva, a Kraft Heinz solicitou aos seus fornecedores um aviso prévio de 60 dias antes de qualquer aumento de preços, buscando mitigar impactos na cadeia de suprimentos. Esta movimentação da gigante de alimentos sinaliza como grandes corporações estão se adaptando ao novo cenário comercial americano, priorizando a produção local e a modernização industrial como forma de manter a competitividade.

O aporte bilionário da Kraft Heinz demonstra que, mesmo em um cenário econômico desafiador, investimentos estratégicos em modernização e eficiência produtiva continuam sendo uma prioridade para empresas que buscam defender sua participação de mercado e se preparar para os desafios futuros.