Klabin suspende produção de papel reciclado em Paulínia por falta de viabilidade econômica
Queda na demanda e custo elevado das aparas tornam operação insustentável. Produção será redistribuída entre outras unidades da companhia.

A Klabin, maior produtora e exportadora de papéis para embalagens do Brasil, anunciou a paralisação temporária da sua unidade de papel reciclado em Paulínia, interior de São Paulo. A decisão foi comunicada aos colaboradores no início da manhã de segunda-feira, 21 de julho, e, segundo a empresa, decorre de “questões mercadológicas fora do controle da companhia”.
O principal fator apontado para a suspensão é a combinação entre a queda de preços de venda do papel reciclado e a elevação do custo das aparas, matéria-prima derivada de papel usado. Com isso, a produção da unidade tornou-se economicamente inviável, especialmente em um cenário no qual o kraftliner (papel virgem) se tornou mais competitivo. A valorização do real frente ao dólar nos últimos meses contribuiu para esse cenário, reduzindo os custos do kraftliner e tornando o reciclado menos atraente do ponto de vista comercial.
A planta de Paulínia foi incorporada à Klabin em 2020 como parte da aquisição dos ativos da International Paper no Brasil. Com capacidade instalada de 65 mil toneladas por ano e operação em três turnos, a fábrica já vinha reduzindo sua atividade desde o ano anterior. A empresa afirma que o abastecimento aos clientes não será impactado, pois a produção poderá ser redistribuída entre outras unidades.
Com a hibernação da unidade paulista, a Klabin mantém uma capacidade ativa de cerca de 400 mil toneladas anuais de papel reciclado, concentradas nas fábricas de Piracicaba (SP), Guapimirim (RJ) e Goiana (PE). A companhia reforçou que a paralisação é temporária, sem previsão de retomada, e que os colaboradores afetados estão sendo acompanhados com planos de realocação e suporte trabalhista.
A medida acende um alerta sobre a pressão enfrentada pela indústria de papel reciclado no Brasil. Especialistas do setor apontam que, sem políticas de incentivo à reciclagem e sem maior previsibilidade na cadeia de suprimentos, a competitividade dessa linha produtiva tende a se deteriorar. O avanço da automação e a busca por eficiência têm levado empresas como a Klabin a concentrar sua produção em unidades maiores e mais integradas verticalmente.
A Klabin opera atualmente com 24 unidades industriais, sendo 23 no Brasil e uma na Argentina, e capacidade total de cerca de 3 milhões de toneladas por ano em papéis para embalagens. O movimento em Paulínia é mais um reflexo das adaptações que grandes players estão promovendo para manter a rentabilidade em um cenário de margens apertadas e demanda instável.