Israel rebaixa relações com o Brasil: risco real ou desgaste político?

O rebaixamento das relações diplomáticas entre Israel e Brasil, anunciado nesta semana, levantou dúvidas sobre os possíveis impactos no comércio bilateral, especialmente no agronegócio.

  27 DE AGO, 2025


Israel rebaixa relações com o Brasil: risco real ou desgaste político?

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o Brasil mantém déficit na balança comercial com Israel. Em 2024, o saldo negativo foi de US$ 425,6 milhões. De janeiro a julho de 2025, o déficit continuou, alcançando US$ 441 milhões.

Nas exportações brasileiras, o agro é protagonista. Carne bovina, soja, milho e café representaram quase 83% das vendas ao mercado israelense no último ano. Já as importações mostram forte dependência da agricultura: fertilizantes e adubos responderam por metade do que o Brasil comprou, seguidos por defensivos agrícolas.

Diplomacia como “seguro invisível”

Analistas avaliam que os efeitos da crise podem não se dar diretamente no comércio, mas em fatores indiretos. Para José Carlos de Lima, da Markestrat Group, o risco está em possíveis barreiras a tecnologias, projetos de irrigação e biotecnologia, além da repercussão política em fóruns internacionais. “A diplomacia funciona como um seguro invisível da economia, garantindo previsibilidade e abertura de mercados”, disse.

A professora Ludmila Culpi, da PUC-PR, lembra que em atritos anteriores, como em 2024, não houve impacto imediato no comércio bilateral. “Seguimos vendendo soja e comprando fertilizantes. O desgaste foi mais político do que econômico”, afirmou.

Repercussões externas

O alerta maior está nas conexões indiretas. Israel tem influência em fóruns multilaterais e junto a aliados estratégicos, como os Estados Unidos e a União Europeia. Eventuais ruídos diplomáticos podem afetar negociações comerciais nessas frentes, onde o Brasil já busca reduzir tarifas e ampliar acesso de produtos.

Por enquanto, não há sinais de que Israel pretenda adotar barreiras comerciais contra o Brasil. A expectativa de especialistas é por uma “acomodação pragmática” entre os países, preservando os fluxos de comércio. No entanto, diante da instabilidade internacional, medidas inesperadas não podem ser descartadas.


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