DÉCIMO SEXTO BOLETIM INDUSTRIAL

As principais notícias do setor industrial brasileiro da semana do dia 30/06 a 06/06

  30 DE JUN, 2025


DÉCIMO SEXTO BOLETIM INDUSTRIAL

DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA SOBE MENOS QUE O ESPERADO EM MAIO

A dívida pública bruta do Brasil subiu menos do que o esperado em maio, quando o setor público consolidado brasileiro apresentou déficit primário menor do que a expectativa, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira pelo Banco Central. A dívida pública bruta do país como proporção do Produto Interno Bruto fechou maio em 76,1%, contra 76,0% no mês anterior. Já a dívida líquida do setor público foi a 62,0%, de 61,5%.

As expectativas eram de 76,6% para a dívida bruta e de 62,0% para a líquida. Em maio, o setor público consolidado registrou um déficit primário de R$ 33,74 bilhões, contra expectativa de economistas consultados em pesquisa da Reuters de um saldo negativo de R$ 42,7 bilhões. O desempenho mostra que o governo central teve déficit de R$ 37,35 bilhões, enquanto Estados e municípios registraram superávit primário de R$ 4,53 bilhões e as estatais tiveram saldo negativo de R$ 926 milhões.

ANÁLISE TÉCNICA:

Do ponto de vista fiscal, o resultado representa uma melhora significativa na trajetória da dívida pública brasileira. A diferença de 0,5 pontos percentuais entre o resultado observado (76,1%) e a expectativa do mercado (76,6%) indica maior controle fiscal do que o antecipado pelos analistas. Esta performance sugere que as medidas de contenção de gastos implementadas pelo governo estão surtindo efeito mais rapidamente do que o previsto.

O déficit primário de R$ 33,7 bilhões, 21% menor que a expectativa de R$ 42,7 bilhões, demonstra uma melhora na arrecadação ou contenção mais efetiva dos gastos públicos. Para a indústria, este cenário é positivo por três razões principais: primeiro, reduz a pressão sobre as taxas de juros de longo prazo; segundo, libera espaço fiscal para eventuais políticas de estímulo setorial; terceiro, melhora a percepção de risco-país, facilitando o acesso ao crédito internacional para empresas brasileiras.

O superávit de R$ 4,5 bilhões de Estados e municípios é particularmente relevante para a indústria, pois indica maior capacidade de investimento em infraestrutura regional e menor pressão tributária local. O déficit limitado das estatais (R$ 926 milhões) sugere que empresas como Petrobras e Eletrobras mantêm disciplina fiscal, reduzindo riscos sistêmicos para o setor energético industrial.

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ESTADOS DO NORDESTE ACELERAM PROJETOS INDUSTRIAIS E ENERGÉTICOS

O sol que historicamente castiga o sertão nordestino é agora fonte de energia limpa para a descarbonização da economia e mobiliza investimentos disputados pelos Estados da região. Ao dar suporte a novos projetos industriais e energéticos, como a instalação de datacenters e a produção de hidrogênio verde, a alternativa solar contribui na abertura de fronteiras em cenário de crescimento econômico regional. Em 2024, o Produto Interno Bruto do Nordeste aumentou 4%, acima da média nacional de 3,8%, conforme boletim do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas.

Na liderança da geração centralizada solar no Nordeste, com 2,4 mil MW de potência instalada até junho, a Bahia atraiu R$ 10,6 bilhões em investimentos nesse segmento desde 2012. Além de 79 usinas em operação, a Bahia tem 171 mil unidades consumidoras em todos os municípios, no total de 1 GW de geração distribuída. No Programa de Transição Energética da Bahia, lançado neste ano, o governo estadual visa alcançar 27 GW de fontes renováveis até 2030.

ANÁLISE TÉCNICA:

A transformação energética do Nordeste representa uma mudança estrutural na geografia industrial brasileira. O crescimento de 4% do PIB nordestino versus 3,8% nacional indica uma convergência econômica regional impulsionada pela vantagem comparativa em energia renovável. Esta dinâmica tem implicações técnicas importantes para a indústria nacional.

Do ponto de vista de competitividade industrial, a abundância de energia solar barata (com custos médios de R$ 150-200/MWh) cria vantagens significativas para indústrias eletrointensivas como alumínio, siderurgia, química e petroquímica. A meta da Bahia de 27 GW até 2030 representa um crescimento de mais de 1.000% em relação aos atuais 2,4 GW, sinalizando uma transformação na matriz energética regional.

A instalação de datacenters no Nordeste é tecnicamente estratégica, pois combina baixo custo energético com proximidade aos cabos submarinos de fibra ótica que conectam o Brasil à Europa e África. Para a indústria de tecnologia, isso representa uma oportunidade de desenvolver um hub de processamento de dados com custos operacionais competitivos globalmente.

A produção de hidrogênio verde emerge como uma nova fronteira industrial. Com fatores de capacidade solar superiores a 25% no Nordeste (versus 15-20% no Sul/Sudeste), a região pode produzir hidrogênio a custos de US$ 2-3/kg até 2030, competitivos com hidrogênio cinza. Isso abre possibilidades para indústrias de fertilizantes, siderurgia e química, além de exportação para Europa e Ásia.

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MERCADO REDUZ EXPECTATIVA DE INFLAÇÃO PELA QUINTA SEMANA CONSECUTIVA

Os economistas do mercado financeiro reduziram sua estimativa de inflação deste ano, ao mesmo tempo em que mantiveram a projeção para o crescimento da economia brasileira. Para a inflação de 2025, a estimativa do mercado recuou de 5,24% para 5,20%, embora continue bem acima do teto da meta, que é de 4,5%. Foi a quinta queda seguida do indicador. Para o crescimento do Produto Interno Bruto em 2025, a projeção do mercado continuou em 2,21%.

Para o fechamento de 2025, a projeção do mercado para o juro básico da economia continuou em 15% ao ano, atual patamar do juro básico. A projeção da taxa de câmbio para o fim de 2025 recuou de R$ 5,72 para R$ 5,70. Para o saldo da balança comercial em 2025, a projeção recuou de US$ 74 bilhões para US$ 73 bilhões de superávit. A previsão para a entrada de investimentos estrangeiros diretos no Brasil neste ano continuou em US$ 70 bilhões.

ANÁLISE TÉCNICA:

A convergência das expectativas inflacionárias, mesmo que ainda acima da meta, sinaliza maior ancoragem das expectativas e redução da incerteza macroeconômica. Para a indústria, esta dinâmica tem implicações técnicas importantes em três dimensões: custos de financiamento, planejamento de investimentos e competitividade externa.

A manutenção da Selic em 15% ao ano, combinada com expectativas inflacionárias em queda, resulta em taxas de juros reais crescentes (aproximadamente 9,8% ao ano), o que pressiona negativamente investimentos industriais de longo prazo. No entanto, a estabilização das expectativas reduz o prêmio de risco, beneficiando empresas com boa governança e fluxos de caixa previsíveis.

A projeção de câmbio em R$ 5,70 (versus R$ 5,72 anterior) indica maior estabilidade cambial, crucial para indústrias dependentes de insumos importados. Para o setor de máquinas e equipamentos, que importa cerca de 40% dos componentes, esta estabilidade reduz a volatilidade dos custos de produção e melhora a previsibilidade de margens.

O superávit comercial projetado de US$ 73 bilhões reflete a competitividade das exportações industriais brasileiras, especialmente em commodities processadas e produtos do agronegócio. Para a indústria de transformação, isso indica oportunidades de expansão em mercados externos, particularmente em setores onde o Brasil possui vantagens comparativas como celulose, siderurgia e petroquímica.

A manutenção do IED em US$ 70 bilhões sugere confiança internacional na economia brasileira, mas também indica que o país precisa melhorar sua atratividade para investimentos greenfield industriais. A concentração em setores de recursos naturais e serviços limita o potencial de upgrading tecnológico da indústria nacional.

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BNDESPAR RETOMA INVESTIMENTOS EM ECONOMIA VERDE E INOVAÇÃO

A retomada de investimentos da BNDESPAR em economia verde e inovação fortalece a indústria e políticas públicas, segundo avaliação da CNI. Segundo dados do IBGE, o desempenho da indústria no primeiro trimestre de 2025 registrou retração de 0,1% no PIB, contrastando com os crescimentos observados na agropecuária e nos serviços. O BNDES anunciou que retomará investimentos em renda variável após 10 anos, com foco em transição ecológica, descarbonização e inovação, destinando até R$ 10 bilhões para esses investimentos.

Esta medida é vista como fundamental para o desenvolvimento de setores estratégicos da economia brasileira, especialmente aqueles relacionados à transição energética e à modernização industrial. A indústria de autopeças celebrou a medida, considerando-a essencial para a competitividade do setor.

ANÁLISE TÉCNICA:

A retomada os investimentos em renda variável pelo BNDESPAR representa uma mudança estrutural na política de desenvolvimento industrial brasileira. Os R$ 10 bilhões destinados a economia verde e inovação, embora representem apenas 0,1% do PIB, podem ter efeito multiplicador significativo devido ao caráter estratégico dos investimentos.

Do ponto de vista técnico, o foco em transição ecológica alinha o Brasil com tendências globais de descarbonização, criando oportunidades em setores emergentes. Para a indústria química, isso significa investimentos em bioquímicos e materiais sustentáveis. Para a siderurgia, representa oportunidades em hidrogênio verde e captura de carbono. Para o setor automotivo, acelera a transição para veículos elétricos e híbridos.

A retração de 0,1% da indústria no primeiro trimestre, contrastando com crescimento em agropecuária e serviços, indica desafios estruturais que os investimentos do BNDES podem ajudar a endereçar. A indústria brasileira enfrenta problemas de produtividade, defasagem tecnológica e baixa intensidade em P&D (1,2% do PIB versus 2,4% da OCDE).

Para a indústria de autopeças, que representa 4% do PIB industrial e emprega 1,3 milhão de pessoas, os investimentos são cruciais para a transição tecnológica. O setor precisa adaptar-se à eletrificação veicular, que reduz o número de componentes por veículo em 30-40%, mas cria oportunidades em baterias, eletrônica embarcada e sistemas de gestão energética.

A estratégia de investimento em renda variável permite ao BNDES participar do upside dos investimentos bem-sucedidos, criando um ciclo virtuoso de reinvestimento. Tecnicamente, isso é superior aos empréstimos tradicionais para setores de alta incerteza tecnológica, onde o risco e retorno são assimétricos.

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INDÚSTRIA BRASILEIRA MOSTRA RECUPERAÇÃO EM MAIO COM CAUTELA NAS CONTRATAÇÕES

A Confederação Nacional da Indústria divulgou dados que mostram uma importante recuperação da produção industrial brasileira em maio de 2025. O indicador registrou 52 pontos, representando um aumento significativo de 4,2 pontos em relação ao mês anterior e constituindo o melhor resultado do ano. A utilização da capacidade instalada subiu para 70%, sinalizando que as empresas estão aproveitando melhor sua infraestrutura produtiva existente.

As expectativas do setor apresentaram melhora considerável, com o indicador de expectativa de demanda subindo para 55,6 pontos, demonstrando otimismo dos empresários industriais. O indicador de compras de insumos e matérias-primas avançou para 53,9 pontos, enquanto a expectativa de exportações cresceu para 52,5 pontos. Contudo, o emprego na indústria segue em queda, com o índice permanecendo abaixo da linha dos 50 pontos pelo terceiro mês consecutivo, alcançando 49,6 pontos em maio.

ANÁLISE TÉCNICA:

Os indicadores revelam uma recuperação cíclica da indústria, mas com características técnicas que merecem análise detalhada. O índice de 52 pontos (acima de 50 indica expansão) representa o melhor resultado de 2025, mas ainda está em território de expansão moderada, longe dos 60+ pontos observados em períodos de forte crescimento.

A utilização da capacidade instalada em 70% é tecnicamente significativa. Este nível indica que a indústria está operando próximo ao ponto ótimo de eficiência (75-80%), mas ainda tem margem para expansão sem necessidade de novos investimentos em capital fixo. Historicamente, utilizações acima de 80% precedem ciclos de investimento em ampliação de capacidade.

A desconexão entre produção em recuperação e emprego em queda (49,6 pontos pelo terceiro mês) indica ganhos de produtividade ou substituição de trabalho por capital. Tecnicamente, isso pode refletir: automação acelerada durante a pandemia, terceirização de atividades não-core, ou cautela empresarial em contratações permanentes.

O indicador de expectativas de demanda em 55,6 pontos sugere otimismo moderado, mas não euforia. Para a indústria, isso indica que os empresários veem melhora gradual, mas mantêm cautela sobre a sustentabilidade da recuperação. O indicador de compras de insumos em 53,9 pontos confirma esta visão: há reposição de estoques, mas não acumulação especulativa.

As expectativas de exportação em 52,5 pontos são tecnicamente importantes, pois indicam que a indústria brasileira mantém competitividade externa apesar da apreciação cambial. Setores como agronegócio, mineração e celulose continuam vendo oportunidades em mercados internacionais.


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