DÉCIMO SEGUNDO BOLETIM INDUSTRIAL

As principais notícias do setor industrial brasileiro da semana do dia 19/05 a 25/05

  19 DE MAI, 2025


DÉCIMO SEGUNDO BOLETIM INDUSTRIAL

Produção Industrial da China Supera Expectativas em Abril, Apesar das Tarifas Americanas

A produção industrial chinesa cresceu 6,1% em abril em relação ao ano anterior, superando as expectativas dos analistas que previam um aumento de 5,5%. Embora represente uma desaceleração em comparação com o crescimento de 7,7% registrado em março, os números mostram resiliência da indústria chinesa mesmo diante das tarifas impostas pelos EUA na guerra comercial.

Análise Técnica:

O crescimento de 6,1% da produção industrial chinesa em abril, mesmo representando uma desaceleração em relação aos 7,7% de março, demonstra notável resiliência do setor manufatureiro chinês frente às pressões tarifárias impostas pelos EUA. Tecnicamente, isso evidencia a eficácia das políticas de estímulo implementadas por Pequim, incluindo injeções de liquidez, reduções nas taxas de juros e subsídios setoriais estratégicos. A China está claramente priorizando sua capacidade industrial como pilar de estabilidade econômica.

A desaceleração de 1,6 pontos percentuais entre março e abril, contudo, não deve ser ignorada, pois sinaliza que as tarifas americanas começam a produzir algum efeito, especialmente em setores mais expostos ao mercado americano. A manutenção de um crescimento acima de 6% sugere que a China está conseguindo redirecionar parte de sua produção para o mercado interno e para outros mercados internacionais não afetados pelas tarifas, demonstrando a flexibilidade de sua cadeia produtiva.

Para a indústria global, esses números indicam que não haverá um colapso súbito da oferta chinesa, o que poderia desorganizar cadeias de suprimentos mundiais. Ao contrário, a China parece estar gerenciando um "pouso suave" de sua indústria, ajustando-se gradualmente ao novo cenário comercial global. Isso dá tempo para que outros países, incluindo o Brasil, se posicionem estrategicamente para capturar oportunidades emergentes.

 

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Indústria Brasileira se Aproxima da Estagnação em Abril, Mostra PMI

O Índice de Gerentes de Compras (PMI) da indústria brasileira caiu para 50,3 pontos em abril, o nível mais baixo em 16 meses, segundo dados da S&P Global. O resultado, próximo da linha de 50 pontos que separa expansão de contração, indica que o setor industrial brasileiro está quase estagnado. O mês foi marcado pela queda da confiança em relação à produção futura para o nível mais baixo em cinco anos.

Análise Técnica:

A queda do PMI industrial brasileiro para 50,3 pontos em abril, o menor nível em 16 meses e perigosamente próximo da linha de 50 pontos que separa expansão de contração, é um sinal técnico preocupante. Este indicador, que mede a percepção dos gerentes de compras sobre a atividade industrial, é considerado um termômetro avançado da produção, pois captura intenções de compra antes que se traduzam em dados concretos de produção.

Tecnicamente, a proximidade com a linha de 50 pontos indica que a indústria brasileira está praticamente estagnada, com empresas relatando redução na atividade de compras, desaceleração na criação de empregos e queda nos estoques de insumos. Mais alarmante é a queda da confiança em relação à produção futura para o nível mais baixo em cinco anos, sinalizando pessimismo quanto às perspectivas de médio prazo.

Os fatores por trás dessa quase estagnação são múltiplos: juros ainda elevados encarecendo o crédito para investimentos e consumo, pressão de custos, incertezas fiscais e regulatórias, e competição com importados. A combinação desses elementos está levando as empresas a adotarem uma postura defensiva, priorizando a preservação de caixa e postergando decisões de investimento e expansão.

Este cenário de quase estagnação contrasta com o crescimento de 1,2% da produção industrial em março, sugerindo que aquele resultado positivo pode ter sido pontual e não o início de uma tendência sustentada de recuperação. A divergência entre o dado "duro" de produção de março e o indicador de sentimento de abril aponta para uma possível reversão nos próximos meses.

 

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Guerra Comercial EUA-China Favorece Indústria Calçadista Brasileira

A escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China está abrindo novas oportunidades para a indústria calçadista brasileira. Importadores americanos já ampliaram a compra de calçados brasileiros e estão sondando empresários locais para substituir produtos chineses. Em Franca (SP), polo calçadista nacional, empresas relatam aumento nas encomendas e perspectivas de crescimento nas exportações.

Análise Técnica:

O aumento das encomendas de calçados brasileiros por importadores americanos representa um caso clássico de "desvio de comércio" resultante de barreiras tarifárias. Tecnicamente, quando tarifas são impostas sobre produtos de um país específico (China), compradores buscam fornecedores alternativos em países não afetados pelas tarifas (Brasil), mesmo que estes não sejam originalmente os mais competitivos em condições de livre comércio.

Para a indústria calçadista brasileira, especialmente em polos como Franca (SP), esta é uma oportunidade técnica significativa por várias razões: (1) o setor opera com capacidade ociosa que pode ser rapidamente mobilizada; (2) o Brasil já possui know-how e tradição na produção de calçados de qualidade; (3) a desvalorização do real frente ao dólar torna os produtos brasileiros mais competitivos; e (4) o país já possui canais logísticos e comerciais estabelecidos com os EUA.

Contudo, há desafios técnicos para maximizar esta oportunidade: (1) a necessidade de rápida adaptação às especificações e padrões de qualidade exigidos pelo mercado americano; (2) a capacidade de escalar produção mantendo consistência; (3) a necessidade de investimentos em modernização para competir em eficiência; e (4) a sustentabilidade dessa demanda, que depende da duração e intensidade da guerra comercial.

Adicionalmente, o setor precisa estar atento ao risco de "transbordamento" de produtos chineses para o mercado brasileiro, à medida que fabricantes chineses busquem mercados alternativos para escoar sua produção. Isso poderia pressionar os preços e a participação de mercado dos produtores nacionais no mercado doméstico, exigindo monitoramento constante e possível acionamento de mecanismos de defesa comercial.

 

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Montadoras Chinesas Ocupam Fábricas Ociosas no Brasil

Com anúncios públicos, investimentos bilionários e articulações de alto nível, empresas chinesas como GWM, BYD, Geely e GAC Motor estão reativando fábricas que estavam ociosas ou foram fechadas por montadoras tradicionais no Brasil. O movimento representa uma nova fase da indústria automobilística no país, com foco em veículos eletrificados e híbridos.

Análise Técnica:

A reativação de fábricas ociosas por montadoras chinesas representa uma reconfiguração técnica significativa da indústria automobilística brasileira. Do ponto de vista industrial, este movimento traz vários impactos técnicos: (1) aproveitamento de infraestrutura existente, reduzindo o tempo de entrada em operação; (2) absorção de mão de obra qualificada já disponível nos polos automotivos; (3) revitalização de cadeias de fornecedores locais; e (4) aceleração da transição tecnológica para eletrificação.

Tecnicamente, as montadoras chinesas trazem vantagens competitivas distintas: domínio da cadeia de valor de veículos eletrificados (especialmente baterias), arquiteturas de produto mais modernas e flexíveis, e estruturas de custo otimizadas. Estas vantagens, combinadas com a infraestrutura existente no Brasil, podem criar um novo paradigma de competitividade no setor.

A ocupação de fábricas ociosas também representa uma transferência tecnológica acelerada, pois as montadoras chinesas trazem consigo processos produtivos e tecnologias de produto mais recentes. Isso pode elevar o patamar técnico da indústria automotiva brasileira como um todo, forçando as montadoras tradicionais a acelerarem seus próprios processos de modernização.

Contudo, há desafios técnicos importantes: (1) a necessidade de adaptação das linhas de produção existentes para novas plataformas de veículos; (2) o desenvolvimento de uma cadeia local de fornecedores para componentes específicos de veículos eletrificados; (3) a qualificação da mão de obra para novas tecnologias; e (4) a adequação da infraestrutura de recarga para veículos elétricos no país.

 

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Confiança da Indústria Brasileira se Recupera em Maio, Mas Segue em Patamar Negativo

O Índice de Condições Atuais do setor industrial e da economia brasileira avançou 1,3 ponto em maio, para 44,0 pontos, segundo a CNI. Após dois meses de queda, os empresários industriais estão um pouco mais confiantes, mas o índice abaixo de 50 pontos ainda indica pessimismo. A preocupação com a demanda interna insuficiente continua sendo um dos principais fatores para o cenário de cautela.

Análise Técnica:

O avanço de 1,3 ponto no Índice de Condições Atuais do setor industrial em maio, para 44,0 pontos, representa uma melhora marginal, mas tecnicamente insuficiente para indicar uma reversão de tendência. Em termos técnicos, índices de confiança abaixo de 50 pontos ainda refletem pessimismo, e o valor de 44,0 pontos indica uma percepção significativamente negativa das condições atuais.

A recuperação parcial após dois meses de queda pode ser atribuída a fatores como: (1) o crescimento de 1,2% da produção industrial em março, divulgado no início de maio; (2) medidas pontuais de estímulo anunciadas pelo governo; e (3) uma leve melhora nas expectativas quanto à demanda futura. Contudo, a persistência do índice em território negativo revela que os empresários industriais ainda enfrentam desafios estruturais significativos.

A preocupação com a demanda interna insuficiente como principal fator para o pessimismo é tecnicamente relevante, pois indica que o problema central não está na capacidade de produção, mas sim na absorção dessa produção pelo mercado. Isso sugere que políticas de estímulo à demanda (via crédito, redução de impostos sobre consumo, ou aumento da renda disponível) poderiam ser mais eficazes que incentivos diretos à produção.

Do ponto de vista técnico, a combinação de um PMI próximo da estagnação em abril (50,3 pontos) com um índice de confiança ainda negativo em maio (44,0 pontos) sugere que a indústria brasileira está em um momento de fragilidade, com recuperação incipiente e sujeita a reversões. A sustentação e aceleração dessa recuperação dependerão da evolução de fatores como juros, câmbio, ambiente regulatório e, principalmente, da demanda interna e externa.

 

 


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