DÉCIMO QUINTO BOLETIM INDUSTRIAL
As principais notícias do setor industrial brasileiro da semana do dia 09/06 a 15/06

Indústria brasileira acelera investimentos em energia limpa com crescimento de 41% em 2024
A indústria brasileira registrou um avanço significativo na adoção de fontes renováveis de energia em 2024. Segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 48% das empresas investiram em projetos com energia hídrica, eólica, solar, biomassa ou hidrogênio de baixo carbono, representando um crescimento de 41% em relação aos 34% registrados em 2023. O estudo, realizado pela empresa Nexus com 1.000 executivos de todos os estados brasileiros entre outubro e novembro de 2024, revelou que os dois principais motivos para investir em energia renovável são descarbonizar a produção e reduzir custos, sendo este último citado por 50% dos que implementaram tais projetos. Entre as empresas que adotaram fontes renováveis, 42% optaram por ser autoprodutores. O Nordeste lidera os investimentos com 60% das indústrias engajadas, seguido por Norte e Centro-Oeste (56%), Sul (53%) e Sudeste (39%). Mais de 60% das empresas demonstraram interesse em financiamento para modernizar maquinário visando descarbonização, embora 9 em cada 10 reclamem da falta de incentivos fiscais.
Análise Técnica:
O crescimento de 41% nos investimentos em energia renovável pela indústria brasileira representa uma inflexão estratégica significativa no setor. Tecnicamente, este movimento está alinhado com tendências globais de descarbonização e competitividade energética, especialmente considerando que a energia renovável se tornou economicamente mais atrativa que fontes convencionais. A liderança do Nordeste (60%) reflete as vantagens comparativas regionais em recursos solares e eólicos, enquanto o menor engajamento do Sudeste (39%) pode estar relacionado à maior complexidade da matriz energética regional e aos custos de transição em parques industriais mais consolidados. O fato de 42% das empresas optarem por autoprodução indica uma estratégia de verticalização energética que reduz dependência de terceiros e volatilidade tarifária. A estratégia dual de descarbonização e redução de custos (50% das empresas) demonstra que a sustentabilidade deixou de ser apenas uma questão ambiental para se tornar um imperativo competitivo. O uso de energia renovável como estratégia de descarbonização subiu de 23% para 25%, enquanto inovação tecnológica para reduzir emissões cresceu de 14% para 20%, indicando uma abordagem mais sofisticada e integrada. A reclamação de 90% das empresas sobre falta de incentivos fiscais sugere um gargalo de política pública que pode estar limitando uma expansão ainda maior destes investimentos.
--------------------------------------------------------
Emprego industrial registra primeira queda mensal em 18 meses devido ao ciclo de alta de juros
O emprego industrial brasileiro registrou queda de 0,4% em abril de 2025, marcando a primeira contração mensal desde setembro de 2023, segundo a pesquisa Indicadores Industriais da CNI divulgada em 6 de junho. Esta reversão interrompe uma sequência de 17 meses consecutivos de crescimento no emprego industrial, reflexo direto do ciclo de alta de juros iniciado em setembro de 2024. Apesar da queda mensal, o acumulado de janeiro a abril ainda apresenta crescimento de 2,6% em relação ao mesmo período de 2024. A CNI explicou que o emprego industrial reage lentamente ao cenário econômico, e que apesar dos aumentos de juros desde setembro passado, o emprego continuou crescendo porque a demanda por bens industriais ainda estava aquecida. Com a queda na demanda, o indicador parou de crescer em março e contraiu em abril. Paradoxalmente, a massa salarial da indústria cresceu 4,4% em abril comparado a março, revertendo quedas anteriores, e o rendimento médio por trabalhador aumentou 5%, embora permaneça 2,5% abaixo do observado no fim de 2024. O faturamento real da indústria de transformação encolheu 0,8% em abril, após queda de 2,1% em março, e a utilização da capacidade instalada recuou 0,6 ponto percentual para 77,9%.
Análise Técnica:
A contração de 0,4% no emprego industrial em abril representa um ponto de inflexão tecnicamente significativo, quebrando uma tendência de crescimento sustentada por 17 meses consecutivos. Esta reversão confirma a defasagem temporal típica entre mudanças na política monetária e seus efeitos sobre o mercado de trabalho industrial, estimada entre 6 a 12 meses. O fato de o emprego ter continuado crescendo por meses após o início do ciclo de alta de juros em setembro de 2024 ilustra a inércia característica deste indicador, que responde primeiro à demanda corrente e depois às expectativas futuras. A divergência entre a queda no emprego (-0,4%) e o crescimento da massa salarial (+4,4%) sugere que as empresas estão priorizando a retenção de trabalhadores mais qualificados e produtivos, possivelmente antecipando uma recuperação futura. O aumento de 5% no rendimento médio, mesmo com a contração do emprego, indica que as demissões se concentraram em posições de menor remuneração ou que houve ajustes salariais para reter talentos críticos. A queda na utilização da capacidade instalada para 77,9% (-0,6 p.p.) confirma que a indústria está operando com folga, o que tecnicamente precede reduções mais significativas no emprego se a demanda não se recuperar. O encolhimento do faturamento real por dois meses consecutivos (-2,1% em março e -0,8% em abril) sinaliza uma desaceleração da atividade que pode se intensificar nos próximos meses, especialmente se a política monetária restritiva persistir.
--------------------------------------------------------
Setor automotivo global entra em "pânico total" por restrições chinesas a terras raras
O setor automotivo mundial está enfrentando uma crise de abastecimento de terras raras devido às restrições de exportação impostas pela China, que controla 70% da mineração global, 85% da capacidade de refino e cerca de 90% da produção de ímãs destes elementos essenciais. Segundo Frank Eckard, presidente-executivo da fabricante alemã de ímãs Magnosphere, montadoras e empresas de autopeças estão "em pânico total" e "dispostas a pagar qualquer preço" por fontes alternativas. Algumas empresas relataram que suas fábricas podem ficar paradas até meados de julho sem o fornecimento adequado de ímãs. Esta situação representa o terceiro grande choque na cadeia de suprimentos em cinco anos, após a escassez de chips (2021-2023) e os fechamentos da pandemia (2020). Várias fábricas europeias de fornecedores automotivos já fecharam, e mais paralisações estão previstas. As terras raras são utilizadas em dezenas de pequenos motores elétricos que equipam componentes como espelhos laterais, alto-falantes, bombas de óleo, limpadores de para-brisa e sensores. Um veículo elétrico médio usa cerca de 0,5 kg de elementos de terras raras, enquanto um carro a combustível usa apenas metade disso. O presidente americano Donald Trump anunciou que o presidente chinês Xi Jinping concordou em permitir o fluxo de minerais para os EUA, e uma equipe comercial está programada para se reunir em Londres.
Análise Técnica:
A crise das terras raras no setor automotivo expõe uma vulnerabilidade estrutural crítica nas cadeias globais de suprimento, onde a concentração geográfica extrema (China com 90% da produção de ímãs) cria um ponto único de falha sistêmica. Tecnicamente, esta situação ilustra o conceito econômico de "arma de recursos naturais", onde um país utiliza sua posição dominante em matérias-primas estratégicas como instrumento de política externa. A dependência de terras raras é particularmente crítica para a transição energética, já que veículos elétricos utilizam o dobro destes elementos comparado aos convencionais, criando um paradoxo onde a descarbonização aumenta a dependência de recursos controlados por um único fornecedor. A escalada de "pânico total" relatada por executivos indica que as estratégias de diversificação de fornecedores implementadas após as crises anteriores (chips e pandemia) não contemplaram adequadamente este risco específico. Do ponto de vista técnico, o desenvolvimento de alternativas como ímãs livres de terras raras (Niron com fábrica de US$ 1 bilhão prevista para 2029) ou motores com conteúdo reduzido (GM, BMW, ZF, BorgWarner) ainda está em estágios iniciais e não oferece soluções de curto prazo. A situação é agravada pelo fato de que a China também controla mais de 50% do fornecimento global de outras 19 matérias-primas críticas, incluindo manganês, grafite e alumínio, sugerindo que esta crise pode ser apenas "um tiro de advertência" para futuras disruções. A necessidade de licenças de exportação chinesas para cada embarque cria uma incerteza operacional que força as empresas a manter estoques maiores, aumentando custos de capital de giro e contrariando as estratégias "just-in-time" que o setor adotou para eficiência.
anuncio