O começo: um produto comum, reinventado com mentalidade de engenharia

Em 2010, Xavier Aguera, Charles Brun e Quentin Couturier, três amigos de Lyon, viram um detalhe que ninguém via. Os óculos de leitura, geralmente vendidos em farmácias, eram funcionais… mas esteticamente esquecidos. A ideia era tratar um item médico como um produto de moda, com design assinado e valor emocional, sem perder preço acessível.

A resposta foi criar a Izipizi, marca francesa que nasceria com engenharia própria, apelo visual e uma operação montada como se fosse uma startup industrial. A proposta era simples: leve, colorido, ergonômico, barato. Mas o sistema por trás não tinha nada de simples.

Produto em Paris, fábrica em Taiwan, escala no mundo inteiro

A Izipizi desenha cada armação em seu estúdio em Paris. São modelos para adultos, crianças, atletas, leitores e até gamers, todos usando materiais como policarbonato soft-touch e dobradiças com mola de aço, além do TPE-E nos óculos infantis (um termoplástico flexível com memória de forma).

A produção é terceirizada em fábricas especializadas em Taiwan, com controle total de qualidade e padronização de componentes. Essa separação entre design e manufatura permite à empresa escalar rápido, sem perder controle técnico. É o que os fundadores chamam de engenharia com leveza.

Crescimento em ritmo industrial: 30% ao ano

Desde o primeiro ano, a Izipizi cresce em ritmo constante. Dobrou suas vendas de 2011 para 2012. Em 2023, o faturamento ultrapassou os US$ 60 milhões, com presença em 85 países, 7.500 pontos de venda e 20 lojas próprias. Cerca de 30% das vendas vêm do e-commerce.

O segredo? Uma logística enxuta, com hubs distribuídos e produção em escala. O preço médio de venda varia de US$ 50 a US$ 75, mantendo alta margem para o varejo e excelente custo-benefício para o consumidor.

Varejo físico + online: uma estratégia de canal duplo com distribuição inteligente

A Izipizi não depende de grandes campanhas ou marketing invasivo. Ela está onde o cliente está. Nos últimos anos, aumentou sua presença em lojas premium e pontos turísticos, com quiosques e prateleiras inteligentes. Já o digital responde hoje por um terço do faturamento.

Além disso, marcas como Moleskine e o MoMA de Nova York já colaboraram com coleções exclusivas, consolidando a empresa como uma marca de design acessível, ou como eles mesmos dizem, masstige (mass + prestige).

O desafio dos EUA: como entrar no maior mercado do mundo… sem perder o controle

Em 2024, a empresa contratou um executivo sênior americano para liderar a operação nos Estados Unidos. O país já representa uma fatia importante das vendas, mas a meta agora é abrir a primeira loja física própria em solo americano em 2026.

Para isso, a empresa adapta sua logística e atendimento digital, já que o consumidor americano é mais exigente em experiência de compra online e prazos de entrega. A estratégia será manter o DNA europeu, mas com velocidade de execução local.

O que a indústria pode aprender com a Izipizi?

A Izipizi não fabrica óculos. Ela projeta um sistema completo de valor. E isso muda tudo.

• Design com propósito técnico
• Produção terceirizada com padrão global
• Canais de venda integrados
• Baixo custo com alto apelo
• Crescimento contínuo com estrutura leve

É um case que mostra como engenharia, cadeia global e inteligência de canal podem criar um império, mesmo em um segmento dominado por gigantes como a EssilorLuxottica.