Brasil pode enfrentar colapso alimentar antes de 2040
Especialistas alertam para risco sistêmico na cadeia global de alimentos e o Brasil está no centro da pressão

O Brasil ocupa uma posição privilegiada na produção global de alimentos. É o quarto maior produtor agrícola do mundo e responde por uma parcela significativa das exportações globais, sobretudo de grãos e commodities agrícolas. Por meio dessas exportações, o país contribui para alimentar cerca de 900 milhões de pessoas ao redor do mundo, direta ou indiretamente. No entanto, por trás dos recordes de safra, uma crise silenciosa começa a se formar.
Relatórios recentes do Sistema Alimentar Global apontam que o modelo atual de produção está no limite. Eventos climáticos extremos, exaustão do solo, dependência de culturas dominantes e concentração logística vêm criando um risco sistêmico alimentar, uma ruptura em cadeia capaz de gerar escassez simultânea em diversos países.
No Brasil, esse risco é ainda mais sensível. A cultura da soja ocupa aproximadamente 45% da área agrícola nacional, conforme dados do IBGE de 2024, tornando a produção vulnerável a secas prolongadas, doenças e instabilidades geopolíticas ligadas ao comércio externo. Além disso, mais de 85% dos fertilizantes utilizados no país são importados, aumentando a dependência cambial e a vulnerabilidade frente a variações internacionais.
Estimativas recentes indicam que, caso não ocorram mudanças estruturais, o sistema alimentar global pode entrar em colapso até 2040, com perdas de produtividade próximas de 30% nas principais culturas agrícolas. Essa situação acarretaria impactos severos sobre preços, segurança alimentar e estabilidade geopolítica.
Apesar dos alertas, os sistemas industriais de produção, estocagem e distribuição continuam a operar no limite. Poucas grandes empresas dominam o comércio global de grãos: estudos e organizações como a FAO indicam que entre 4 e 10 companhias controlam entre 40% e 70% dessa comercialização, tornando o abastecimento mundial altamente vulnerável a choques logísticos ou financeiros.
Especialistas recomendam diversificar as matrizes produtivas, investir em solos resilientes, reestruturar cadeias logísticas e reindustrializar o campo com base em dados e tecnologia. Garantir a segurança alimentar global depende menos da quantidade produzida e mais da inteligência e resiliência do sistema que sustenta essa produção.