BRASIL BATE RECORDE EM EXPORTAÇÕES DE CELULOSE, MAS ENFRENTA OBSTÁCULOS

Setor registra volume histórico de 2,1 milhões de toneladas em março, mas enfrenta desafios com tarifas dos EUA e estoques elevados na China

  08 DE MAI, 2025


BRASIL BATE RECORDE EM EXPORTAÇÕES DE CELULOSE, MAS ENFRENTA OBSTÁCULOS

O que aconteceu

As exportações brasileiras de celulose atingiram o patamar recorde de 2,1 milhões de toneladas em março de 2025, representando um expressivo crescimento de 31% em relação ao mês anterior. Apesar da ligeira queda de 1,7% no valor médio por tonelada, que fechou em US$ 469, a receita de exportações totalizou US$ 988 milhões, um aumento de 28,7% em comparação a fevereiro. O desempenho foi impulsionado principalmente pelo crescimento de 47% nos embarques para a China, que importou mais de 1 milhão de toneladas de celulose brasileira, e pelo excepcional avanço das exportações para os Estados Unidos, que mais que dobraram em relação a fevereiro, registrando 393 mil toneladas – o maior volume mensal já registrado.

Por que é relevante

O cenário atual representa um momento decisivo para o setor de papel e celulose brasileiro. Após atingirem um piso no final de 2024, os preços da celulose entraram em trajetória de recuperação durante o primeiro trimestre de 2025, porém em ritmos diferentes nas principais regiões de referência. Enquanto na Europa os movimentos de alta e baixa têm sido mais característicos, na China as oscilações se mostram mais brandas, com inversões de tendência ocorrendo mais cedo.

Esta dinâmica ganha importância adicional diante da crescente tensão comercial global, com os Estados Unidos anunciando tarifas recíprocas de 10% para produtos brasileiros, embora a implementação tenha sido prorrogada. Simultaneamente, a guerra tarifária entre EUA e China gera incertezas quanto à recuperação da demanda, podendo limitar o apetite dos compradores chineses por novos pedidos e pressionar os preços da commodity.

Para o setor

O acúmulo recorde de estoques de celulose na China, resultado da manutenção de importações firmes simultaneamente à redução da produção de papéis no país, começa a sinalizar um arrefecimento na recuperação da demanda vista nos primeiros meses do ano. Este cenário é agravado pelas incertezas geradas pela guerra tarifária entre Estados Unidos e China, que pode afetar negativamente o nível das exportações brasileiras, já que o país asiático representa 46% do volume total exportado pelo Brasil em 2024.

Adicionalmente, a confiança do empresariado do setor continua se deteriorando. Em abril, o Índice de Confiança do Empresário Industrial retraiu para 48,0 pontos (-1,2 ponto em relação ao mês anterior), enquanto o índice específico para o setor de papel e celulose foi de 47,6 pontos em março (-0,9 ponto), permanecendo ambos em patamar que indica falta de confiança na atividade industrial.

A situação em detalhes

Dinâmica do mercado chinês

A forte demanda de celulose na China nos primeiros meses do ano foi sustentada pela expectativa de redução da oferta de fibras na região, que acabou não se concretizando. Apesar da redução da produção global de celulose em razão de paradas para manutenções programadas em diversas plantas no primeiro trimestre de 2025, as importações da commodity pelo país asiático se mantiveram firmes, levando a um acúmulo recorde de estoques, uma vez que a produção de papéis na China diminuiu no período.

Impactos tarifários

Os Estados Unidos são o segundo principal destino da celulose exportada pelo Brasil, com 15% do volume total embarcado em 2024. As importações de celulose pelos EUA somaram US$ 4,56 bilhões no ano passado, tendo como principais fornecedores o Canadá (46%) e o Brasil (39%).

A celulose canadense é atualmente isenta de tarifas de importação nos Estados Unidos pelo Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA). Embora tenha havido discussões sobre potenciais tarifas aplicadas a produtos canadenses, até o momento o entendimento é que a celulose não estaria sujeita a alíquotas adicionais, mantendo a isenção atual.

Por outro lado, foi anunciada uma tarifa recíproca de 10% para produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos, cuja implementação foi prorrogada. Dependendo do desfecho dessas medidas tarifárias, uma diferença nas alíquotas entre os principais países fornecedores pode alterar a competitividade relativa, potencialmente levando a uma redistribuição das participações de mercado, embora isso possa ser limitado pelos diferentes tipos de fibras predominantes em cada região (o Canadá é grande produtor de fibra longa, enquanto o Brasil lidera na produção de fibra curta).

Mercado interno e perspectivas

O mercado interno também apresenta sinais de desaceleração. A expedição de caixas, acessórios e chapas de Papelão Ondulado foi de 323 mil toneladas em fevereiro, representando uma queda de 1,2% em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Diante do desempenho abaixo do esperado nos dois primeiros meses de 2025 e da expectativa de um ambiente econômico mais desafiador, principalmente pela escalada da inflação de alimentos e alta dos juros, as projeções de crescimento do setor para este ano foram revisadas para baixo: a FGV/Ibre estima agora um crescimento de 2,0% a 3,6% (antes 4,5%) e a FastMarkets projeta 2,7% (antes 4,0%).

Análise: tendências e perspectivas para o setor

O setor de papel e celulose brasileiro enfrenta um cenário de contrastes em 2025. Por um lado, o país consolida sua posição como potência global na produção de celulose de fibra curta, com exportações atingindo volumes recordes. Por outro, crescem as preocupações com as tensões comerciais globais e seus potenciais impactos na demanda, especialmente no mercado chinês.

A diferença na aplicação de tarifas pelos Estados Unidos entre os produtos canadenses e brasileiros pode criar assimetrias competitivas importantes, embora a especialização do Brasil em fibra curta e do Canadá em fibra longa tenda a mitigar parcialmente esses efeitos.

No âmbito interno, a queda na confiança dos empresários e a desaceleração na demanda por papelão ondulado sinalizam desafios para o setor no curto prazo. A revisão para baixo das projeções de crescimento reflete um cenário econômico mais complexo, influenciado pela inflação crescente e pela tendência de elevação das taxas de juros.

Apesar dos desafios conjunturais, o Brasil mantém vantagens estruturais importantes no setor, como alta produtividade florestal, tecnologia avançada e liderança na produção de celulose de fibra curta, fatores que devem sustentar a competitividade do país no médio e longo prazo.


Fontes: Análise do BB Investimentos.


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